terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Por Alfredo Fonceca Peris

Os últimos meses de 2010, que coincidem com o fim do mandado do presidente Luís Inácio Lula da Silva, registram pressões inflacionárias que servem de alerta para todos aqueles que se acostumaram a comprar, principalmente utilizando-se de financiamentos com prazos longos. Nos últimos anos, especificamente, a partir do segundo semestre de 2008, quando eclodiu uma crise financeira em todo o mundo, que afetou vários países mais desenvolvidos, as autoridades econômicas do Brasil colocaram o Estado para servir como a grande âncora do combate à crise que, fatalmente, chegaria ao Brasil. O governo fomentou o crédito e pouco fez para impedir importações de bens de consumo e matérias primas. Isso fez com que o consumo das famílias impedisse o país de experimentar o gosto amargo da crise, às vésperas de uma eleição presidencial. Além de fomentar o gasto privado, principalmente das famílias, o governo também aumentou seus gastos, na tentativa de manter o crescimento da economia. Como o investimento, tanto público quanto privado, quando ocorreu, não foi dirigido mais especificamente para o aumento da produção de bens de consumo e, sim, para melhoria da infraestrutura, por parte do governo, e significativamente no setor de construção civil, por parte do setor privado, a produção de bens de consumo não acompanhou o aumento da demanda. Isso fez com que aumentasse, significativamente, as importações desse gênero de bens, o que fez diminuir o saldo da balança comercial e aumentar ainda mais o déficit do Brasil em transações correntes, gerando desequilíbrio externo. Além de aumentar as pressões sobre os preços, gerando inflação.



O principal motivo que justificou essa atitude do governo era a eleição presidencial de outubro de 2010. Uma vez vencida a eleição, o governo se viu obrigado a tomar medidas no sentido de corrigir as distorções criadas por uma política expansionista feita à custa do desequilíbrio externo e do aumento dos gastos públicos.

Para quem tem um pouco de experiência e olha um pouco para a história recente do Brasil, não é difícil concluir que o novo governo irá praticar uma política de arrocho no crédito e contenção de gastos no seu primeiro ano de governo e liberar, se possível, um pouco no início do segundo ano, visando às eleições municipais de 2012. Tão logo passem as eleições de outubro de 2012, novamente teremos um arrocho e a liberação no final de 2013 novamente visando às eleições de outubro de 2014. Isso é uma prática normal na condução da política econômica no Brasil. É lógico que as políticas econômicas mais expansionistas só poderão ser colocadas em prática, tal qual fez o governo atual, caso a situação permita. Pois o que parece consolidado, no Brasil, em termos de evolução na condução da gestão pública são dois fatos: primeiro que ninguém mais admite a volta da inflação. Qualquer governo que permitir a volta da inflação cometerá um suicídio eleitoral. Para isso, terá que monitorar cuidadosamente os gastos públicos e o consumo das famílias. Segundo, a continuidade das políticas de distribuição de renda aos mais pobres. Dar dinheiro aos pobres dá votos. A eleição de outubro de 2010 comprovou isso e nenhum governo, independente de sua convicção política e ideológica ou de qual partido pertencer, vai se arriscar a pagar o preço pelo corte desses benefícios.

Com a previsão de arrocho no crédito, com aumento das taxas de juros e diminuição dos prazos de financiamentos, como conseqüência, entre outras medidas, do aumento dos depósitos compulsórios dos bancos e da manutenção da atual taxa selic, que está em 10,75% ao ano, quais serão as conseqüências principais sobre a economia, em termos macroeconômicos? Em primeiro lugar, redução no ritmo de crescimento da economia que deve crescer, em 2011, algo como a metade do que cresceu em 2010, ou ainda menos. Segundo, o menor ritmo de crescimento implicará num maior índice de desemprego e numa redução no nível da renda daqueles que estão empregados. Juros mais altos ainda são responsáveis por menores índices de investimentos, o que impossibilita a economia de se preparar para atender futuros aumentos da demanda, isso porque aumenta o custo dos financiamentos e dificulta sua obtenção. Além de provocar o aumento dos gastos do governo com o financiamento de sua dívida interna. Além de atrair capitais externos, o que faz aumentar a pressão sobre a taxa cambial, valorizando a moeda brasileira e prejudicando as exportações e favorecendo as importações.


Em nível microeconômico, mais especificamente para o consumo das famílias, uma política mais conservadora, no sentido de arrocho no crédito e manutenção da taxa selic, já anunciada pelo atual governo e que deverá ser mantida e até intensificada pelo novo governo que assume em primeiro de janeiro de 2011, serve como um alerta. Quem tem dívidas já contraídas, deve ficar atento pois a tendência é uma diminuição no nível da renda, principalmente para aqueles que tem renda variável como comissões, lucros de empresas ou atividade como autônomo. Isso ocorre como um processo natural quando há diminuição no ritmo de crescimento da economia. Assim sendo, enquanto essas dívidas não forem pagas, não é aconselhável contrair novas dívidas, principalmente com prazos mais longos. Os juros sobre pagamentos em atraso devem sofrer aumentos significativos, em 2011.

Para quem não tem dívidas de longo prazo, é aconselhável ser muito criterioso ao contrair dívidas com esse perfil. Não tome a renda atual como parâmetro para a decisão de tomada de crédito para pagamento futuro. Seja conservador e, ao contrair dívidas de longo prazo, deixe uma folga no orçamento. Se sua capacidade atual é de, digamos, 40% da sua renda, não comprometa mais do que 20%, ou seja, 50% do valor que você identifica como capacidade atual de pagamento.

Não queremos ser profetas do apocalipse e ficar antecipando crises. O que apenas queremos dizer é que o momento exige uma política mais austera por parte do governo que assume em janeiro de 2011 e a prova disso é que o governo atual já está tomando medidas nessa direção. Isso, necessariamente, irá frear o crescimento econômico, o que poderá, para algumas famílias, implicar em redução na renda. Consequentemente, cuidados com o endividamento é extremamente oportuno nesse momento.

Caso a redução na renda não ocorra em sua família, ótimo. Sua família terá mais renda disponível e poderá comprar mais à vista, o que sempre aumenta a possibilidade de comprar mais com menos dinheiro.

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