A garota me pergunta qual é a rotina de um jornalista numa grande revista semanal. Como é? Quanto ganha? Trabalho demais? Longas madrugadas de ralação? Autonomia para escolher as pautas? Muito cacique para pouco índio? Glamour? Festas? Gente interessante? Tentei responder com clareza e sinceridade. Com o maior interesse, com a maior boa vontade. Não consegui. A cada pergunta, sequer conseguia concluir uma ou duas frases. Começava a falar e já era interrompida. Ela falava sem parar. Daquele embate de vozes resultava um monólogo. Senti que a garota saiu daquele encontro do mesmo jeito que entrou. Se fosse jornalista, voltaria à redação com as mãos e a cabeça vazias – apesar de ter estado com o entrevistado durante dez horas. Ela ainda não sabe ouvir. Um erro fatal no jornalismo, em muitas outras profissões, na vida.
Fonte: Época - Artigo - 03/11/2012
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