quarta-feira, 15 de junho de 2011

O impacto das políticas econômicas governamentais sobre a economia é sentido de forma diferente e tem igualmente respostas diferentes, principalmente quando a variável considerada é o tempo. Medidas de política monetária são, via de regra, as que apresentam resultados mais rápidos. Medidas de política fiscal são, normalmente, as que apresentam resultados mais demorados. No entanto, todas as medidas, incluídas as de política cambial, impactam sobre a economia, mais cedo ou mais tarde, com intensidades igualmente diferentes, dependendo do setor da economia ou da região considerada.

Determinadas medidas podem afetar mais a indústria do que o comércio e a prestação de serviços. Outras podem afetar a agricultura mais que qualquer outro setor. No entanto, ao afetar a agricultura, por exemplo, na seqüência podem afetar o comércio, a prestação de serviços e a indústria. Da mesma forma, ocorrem com as medidas tomadas visando potencializar determinados setores ou amenizar impactos de outras medidas tomadas pelo governo ou advindas de fatores externos à sua vontade como questões ambientais e fatos ocorridos no resto do mundo. Como conclusão, sabemos que não é fácil administrar uma economia tão grande e complexa como a do Brasil. Quase todos os dias estão acontecendo fatos econômicos, políticos, sociais e até ambientais, no próprio Brasil ou no mundo, cujos reflexos fazem modificar os resultados e o alcance de determinadas medidas econômicas. Sem considerar as diferenças regionais que dificultam todo e qualquer planejamento, pois os resultados da mesma medida podem ser totalmente diferentes de uma região para outra do país por conta de seu nível de desenvolvimento e da complexidade de sua economia.

É sempre temeroso fazer críticas à política econômica quando se está assistindo de longe. Quem está diretamente envolvido em sua condução não tem toda a independência de ação que representa ter para quem está olhando do lado de fora. Principalmente por conta da variável política inerente a toda a atividade pública. Por muita independência que um órgão ou um ministério representem ter, sempre há que se respeitar determinadas orientações e suportar toda a pressão que é normal sobre as administrações públicas, essencialmente num país como o Brasil onde quase tudo está por fazer.

Fazendo-se toda essa ressalva, cabe dizer que embora os resultados possam não ser exatamente o que se planejou, isso pode ser normal e deve ser relevado. O problema maior é quando o rumo a ser seguido, o planejamento geral como um todo parece estar padecendo de uma direção mais apropriada. Sendo mais claro: quando olhamos a condução da política econômica brasileira, na atualidade, podemos questionar as medidas principais, em virtude dos resultados que começam a aparecer.

Senão vejamos. O que está acontecendo com o câmbio. Não é de hoje que a taxa de câmbio vêm se valorizando em relação ao dólar. Desde o início do ano de 2003, o Real vem se valorizando. Quais as conseqüências dessas medidas, principalmente para a indústria? Não são todos os segmentos que estão sofrendo de maneira igual. Mas uma parte significativa da indústria tem padecido com a concorrência dos produtos importados.




Vou citar o setor de confecções, como exemplo. A concorrência dos produtos fabricados na China e agora, recentemente, também na Índia, está praticamente liquidando a indústria da confecção no Brasil. Se permanecer assim, em pouco tempo perderemos os poucos empregos que ainda temos nesse setor da indústria que hoje praticamente não exporta mais.  Sem contar que é uma indústria onde ainda se conseguem conviver pequenas empresas, tão importantes para os pequenos municípios e para a manutenção e o despertar de novos industriais.

Outro detalhe mais preocupante: o controle da inflação no Brasil passa a depender cada vez mais da concorrência dos produtos importados tanto no sentido de entrar no País mais baratos quanto forçar a indústria nacional a baixar seus preços.

Combater a inflação tem que ser uma das preocupações de qualquer governo hoje, no Brasil, principalmente porque a estabilidade nos custou muito caro para se atingir. Não podemos nos dar ao luxo de abrir mão dela. Todavia, repassar à indústria nacional a obrigação principal por essa tarefa, pode também nos custar muito caro.

Para o setor comercial, não há diferença entre comprar da indústria nacional ou comprar o produto de um importador ou importar diretamente. Hoje se fala muito no quanto o comércio está vendendo. Porém, não se fala em quanto dos produtos que o comércio vende, são importados. O grau de abertura da economia ao exterior é um fator relevante nas economias modernas e deve ser perseguido, todavia, esse é um processo que precisa ser feito de maneira extremamente cuidadosa para não inviabilizar determinados segmentos de nossa indústria e se passar a depender de um único país como está ocorrendo em relação à China.

Como se a indústria não estivesse sofrendo com a questão do câmbio, some-se a esse fato a retomada da alta dos juros. Se por um lado, o câmbio força a baixa dos produtos produzidos, por outro lado, o custo financeiro sobe por conta da alta dos juros. Não é só a indústria que padece com a alta dos juros. Esse é um problema que afeta a todos nós. E tem uma conseqüência mais maléfica que impedir o consumo. Em função do tamanho da dívida interna, juros mais altos significam aumento também dos gastos do governo. Só em 2011, o governo estima um custo com a conta juros no montante aproximado de R$ 170 bilhões.

Maior necessidade de caixa para pagamento de juros gera menor possibilidade de investimentos, maior concentração da renda e maior necessidade de arrecadação. Agora temos um quadro quase completo. Câmbio valorizado, juros altos e pressão governamental por aumentar a arrecadação. Da forma como o governo tem dotado o seu aparato de arrecadação de instrumentos de controle e fiscalização, está encurralando as empresas, principalmente as pequenas e médias, para a formalização plena. Não estou dizendo que as empresas devem deixar de pagar seus impostos. Mas a altíssima carga tributária no Brasil impõe uma realidade às pequenas e médias empresas onde muitas só se viabilizam porque não recolhem a totalidade dos impostos. Se agora, além de conviver com câmbio valorizado, com altas taxas de juros tiverem que recolher a totalidade de seus tributos, teremos, fatalmente, uma quebradeira geral de pequenas e médias empresas, particularmente as que atuam no setor industrial.

Para se viabilizar, precisariam aumentar os seus preços. Ou seja, repassar o aumento de custos advindos da alta das taxas de juros e do maior desembolso com o pagamento de tributos. Nesse caso, teríamos mais um fator a pressionar a inflação, além da alta das taxas de juros e do maior gasto do governo. Nessa hora, o câmbio dá o xeque mate. Como o governo não pode deixar a inflação disparar, continuará dando condições para que os produtos importados continuem entrando no país.

Sem contar que em 2012 há mais um fator que irá pressionar sobremaneira os custos das empresas: a forma de reajuste do salário mínimo. O reajuste previsto deve pressionar todos os reajustes de salários dos dissídios coletivos a partir do segundo semestre de 2011. Considerando que hoje estamos dependendo essencialmente dos resultados da balança comercial do agronegócio e das exportações de commodities minerais e da entrada de capitais para manter o equilíbrio das contas externas, até quando a atual política econômica será capaz de manter os níveis de crescimento econômico?

Autor: Alfredo Fonceca Peris
Economista e sócio-diretor da Peris Consultoria Empresarial

Um comentário:

  1. É...está lançado o desafio para esse governo..

    Renata Peris.

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