segunda-feira, 20 de junho de 2011

Quando eu atuava como professor do curso de Ciências Econômicas da Unioeste, no Campus de Cascavel, ficava observando a dificuldade que os alunos tinham para fazer a monografia de graduação. Dificuldades em nenhum momento diferente das que tive quando também fiz a minha monografia de graduação. Além das dificuldades básicas como pouco gosto pela leitura e difícil interpretação de um texto que, lamentavelmente, é muito comum para a maioria dos estudantes brasileiros, havia a dificuldade de identificar e contextualizar um problema que justificasse o estudo. Alguns professores brincavam com os alunos dizendo que “o problema é que era o problema”. O que eles queriam dizer com isso? Queriam dizer que a grande dificuldade mesmo era a identificação do problema. A partir do momento em que o problema fosse identificado, sua contextualização e justificativa eram facilitadas e, por conseqüência, poderia se definir os objetivos a serem atingidos e escolher a metodologia a ser utilizada.

Essas pequenas lições passam, na maioria das vezes, despercebidas pelos alunos. Uma vez resolvido o problema da monografia, a sensação de alívio era visível e parecia que essa etapa da vida estava completamente superada. Quando o contrário deveria acontecer. Essa seria a hora que o aluno teria que se conscientizar que tomou posse do principal aprendizado que um curso superior pode dar a alguém: a capacidade de pensar, de forma lógica, objetiva e, ao mesmo tempo, científica. Quando adquirimos a capacidade de identificar o que definimos como um problema, conseguimos a principal condição para se administrá-lo ou resolvê-lo. Isso porque nem tudo que denominamos de problema, efetivamente se constitui num problema. E também, tomamos consciência que a maioria das situações que se constituem num problema, não tem solução imediata. Os problemas, em sua maioria, precisam ser administrados. A administração vai criando as condições para sua solução e diminuindo seu impacto sobre as partes envolvidas de tal forma que o prejuízo de sua existência ou presença se torne perfeitamente absorvível.

E por que a dificuldade é tão grande? No meu ponto de vista, penso que é pela forma como os nossos alunos estudam até chegar ao momento de fazer uma monografia ou um trabalho de conclusão de curso. No nosso método de ensino, primamos por passar-lhes excesso de conteúdo e não pela fixação do conteúdo aplicado e pela conexão com a realidade. Se frisássemos o aprendizado de três disciplinas básicas, que são, no meu ponto de vista, Português, Matemática e História, já teríamos resultados muito melhores do que temos.
Todas as disciplinas são importantes, porém o aprendizado efetivo da matemática dotaria o estudante de condições de desenvolver um raciocínio lógico e objetivo. Com o aprendizado do Português aprenderia a entender o que lhe é escrito ou dito.

Como os estudantes brasileiros têm dificuldade de entender o que é dito ou escrito. E com o aprendizado da História poderia ter a noção exata do quanto saber como os fatos passados ocorreram e como tirar as lições dos mesmos é importante. A História nos mostra que quase tudo que pensamos em fazer, alguém já tentou fazer. Portanto, nos mostra onde e como acertaram ou erraram. Temos a mania de ficar tentando inventar a roda novamente.

E por que essas deficiências nos prejudicam tanto, como sociedade? Simplesmente porque o nosso dia-a-dia é repleto de situações corriqueiras e adversas. Ambas as situações convivem a todo o tempo. Para muitos, qualquer situação adversa, tanto no meio social quanto no trabalho, constitui-se num problema, muitas vezes de difícil solução. No nosso trabalho e em nossa vida social, problema pode ser simplesmente a incapacidade de identificar o que costumamos chamar de problema e a incapacidade de administrá-lo e resolvê-lo. As demais situações são meras situações corriqueiras ou adversas. Nada mais que isso.

Agora, se não dominamos nossa própria língua, lemos um texto ou um simples recado e não conseguimos entender o que a outra parte quis nos dizer; às vezes não entendemos porque a outra parte também não conseguiu se expressar corretamente; ouvimos alguém falar e igualmente não entendemos o que ele quer dizer; se não temos conhecimento da História e pouco nos importamos com o que aconteceu até o dia de ontem e se, para completar, a Matemática nos causa pavor, qualquer situação corriqueira, poderá se transformar num grande problema. Que dirá uma situação adversa, com as quais nos deparamos cada vez com mais freqüência, em virtude do avanço das relações sociais e da tecnologia, tanto em nossa vida social quanto no trabalho?

Enquanto a estrutura como um todo não muda, nós podemos começar a tomar nossas primeiras providências. A primeira é sempre ouvir e prestar atenção. Qualquer situação nova merece uma cuidadosa observação. O método observacional é de fácil aplicação e pode trazer ótimos resultados. Depois ou conjuntamente, podemos passar a ouvir mais e procurar entender o que a outra parte está querendo nos dizer. Muitas das situações que denominamos como sendo um problema, principalmente de relacionamento, se resolvem com uma simples conversa aberta e franca onde cada uma das partes diz o que serve e o que não serve para ela. Uma vez identificado o que temos o hábito de chamar de “problema”, devemos verificar se sua solução pode ser imediata ou se precisamos administrá-lo enquanto criamos as condições para efetivamente solucioná-lo.

Autor: Alfredo Fonceca Peris
Economista e sócio-diretor da Peris Consultoria Empresarial

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